A primeira noite no Miguel Couto

Do dia comum de trabalho ao acidente, o socorro imediato e a madrugada de espera até as primeiras notícias.

DIÁRIO

Marcelo Bandeira

10/1/20251 min read

O dia 06/03/2025 começou como tantos outros para o Rodrigo: mais um serviço de drywall, ferramentas alinhadas, atenção aos prazos, conversa rápida com os colegas. No meio da tarde, tudo virou. Um prego da pistola de drywall atingiu sua cabeça. Em segundos, o trabalho deu lugar à urgência.

O Douglas, amigo com quem o Rodrigo estava no serviço, o socorreu de imediato e o levou ao Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Depois dos primeiros atendimentos, veio a transferência para o Hospital Municipal Miguel Couto, onde a equipe avaliou a necessidade de craniectomia. As decisões foram rápidas; para nós, a sensação era de tempo suspenso.

A partir dali começou a primeira noite — longa como poucas. Ana Beatriz, a mãe e os tios (Reijane e Marcelo) ficaram na sala de emergência, sem vê-lo e sem notícias por horas. A primeira profissional que nos procurou foi breve: o quadro era grave e ele iria para cirurgia. Voltamos aos bancos da sala de espera. O Douglas permaneceu conosco a madrugada inteira, ao lado da esposa; presença discreta, que somou cuidado.

Vieram então as horas mais difíceis: esperar o fim da cirurgia. Naquele silêncio, quem ama o Rodrigo se comunicava quase só pelos olharesangústia, desespero, ceticismo diante do que estava acontecendo e uma grande impotência diante do que não podíamos controlar. Entre um olhar e outro, oramos. Pedimos a Deus pela vida do Rodrigo e por sabedoria à equipe.

Somente depois do procedimento ele seguiu para a Sala Vermelha, para os cuidados imediatos do pós-operatório. Foi quando começaram a chegar as primeiras informações mais concretas. Aquela madrugada marcou nossa família com um antes e depois. Aprendemos que, quando as palavras faltam e o coração aperta, a fé sustenta — e é assim que seguimos.